Reator nuclear não é bomba atômica

Antonio Germano Gomes Pinto*

http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2011/03/23/reator-nuclear-nao-e-bomba-atomica/

Sim, de certa forma, isso serve de algum modo de consolo, pelo menos podemos nos tranquilizar quanto a uma possível explosão nuclear. A possibilidade de uma explosão é completamente inviável. Na verdade, os reatores nucleares e as armas nucleares dependem das reações em cadeia. Essas reações dependem da presença de materiais nucleares, que são todos isótopos atômicos e podem, quando submetidos a uma determinada reação nuclear, criar as matérias-primas necessárias para as mesmas reações se repetirem sequencialmente, em cadeia.

Existe somente um isótopo natural físsil útil para a energia nuclear, o urânio-235, que é raro em estado natural. Os outros isótopos físseis, como isótopos de plutônio, têm de ser artificialmente criados a partir de isótopos naturais.

Vamos tomar como exemplo uma reação em cadeia, envolvendo o urânio-235, que é a reação em cadeia usada em reatores nucleares e muitas vezes em armas nucleares. Um nêutron livre (parte do núcleo de um átomo) colide com o núcleo de outro átomo de urânio em movimento (de urânio-235) e é absorvido por ele.

A fissão de urânio os transforma em dois isótopos mais ágeis e mais leves, recebendo normalmente os nomes de criptônio-92 e bário-141, além de produzir radiação gama. O reator nuclear absorve essa energia, que é cerca de 3 milhões de vezes maior que a energia que o carvão pode produzir em uma queima convencional. O resfriamento do reator é feito com água que, além de resfriá-lo, produz vapor para acionar as caldeiras geradoras de vapor que impulsionam as turbinas geradoras de energia elétrica. Essa reação cria outros nêutrons livres, que são absorvidos por outros isótopos de urânio-235, dando início a todo o processo que se repede inúmeras vezes. As reações vão se repetindo, entre os isótopos de urânio natural, mas somente o urânio-235 é físsil.

Os outros elementos radiativos não têm essa propriedade, não dão inicio as reações em cadeia. Para evitar um acúmulo potencialmente perigoso de energia, os reatores nucleares possuem um grande número de dispositivos de segurança. Um dos métodos mais conhecidos é o uso de barras de controle, feitas de materiais como o boro, que absorvem nêutrons, mas não podem passar por reações nucleares. O boro funciona como um depositário de nêutrons sem tornar-se radioativo.

No caso de um acúmulo de energia, essas barras de boro são manipuladas para cair sobre o núcleo do reator e absorver todos os nêutrons livres, interrompendo assim a reação em cadeia. Possivelmente, o descuido ao manipular essas barras de segurança, foi a causa de um dos muitos fatores por trás do desastre de Chernobyl. Se todas as medidas de segurança não interromperem o acúmulo de calor – como aconteceu em Chernobyl, e como pode acontecer no Japão – há efeitos bastante desagradáveis. A ameaça mais provável será a de fusão nuclear, que acontece quando o acúmulo de energia (calor) faz com que o núcleo inteiro do reator derreta (entre em fusão), danificando as estruturas de proteção e liberando materiais radioativos no meio ambiente.

continua….
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